Todos somos chamados a cooperar com Cristo
12/04/2013 08:48Então a Boa Nova apresenta o Senhor tomando, incansavelmente, a iniciativa do diálogo: «Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?» (v.5). São João faz questão de ressaltar: «Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer» (v.6). Como é belo e verdadeiro constatarmos que o senhorio de Cristo não se impõe, revelando-se assim, um Deus sensível e amoroso, sem deixar de ser Onipotente e Todo-Poderoso. Ele não é tirano e nem déspota!
A Santíssima Trindade, que é Comunhão divina, plena e total das três Pessoas, revela-se como fonte e paradigma de comunhão e participação para o ser humano e a Igreja de Cristo. Retornando ao Evangelho e sua dinâmica, percebemos que pedagogicamente o Senhor Jesus estabelece um diálogo, dá tempo para pensarem a realidade, até que num ato realista possam reconhecem a verdade, mas sem fechar as portas para o impossível, que somente Deus poderia realizar: «Filipe respondeu: Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um. Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro disse: Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?» (vv.7-9). E pela Palavra e Poder do Espírito Santo, o Ungido do Pai realizou o milagre da multiplicação dos pães e peixes, em prol daquela multidão e também, a favor de cada um de nós!
Jesus, com os apóstolos, forneceram o pão do sustento corporal às pessoas daquele tempo, os quais se alimentaram com as mãos e pela boca. A nós, depois de mais de dois mil anos, o alimento espiritual da Verdade que liberta, entra em nós pela escuta e fé no Cristo que sempre é atual, pelo Espírito Santo: «Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre» (Hb 13,8).
Claro que é perceptível nos Evangelhos que as palavras e sinais de Cristo, anunciadores do Reino dos Céus e Fundador de Sua Igreja, revelam-lhe como causa primeira de todo o bem que salva. Mas nem por isso os discípulos estão dispensados de cooperarem com o seu Mestre e Senhor, ainda que seja um desafio de fé e razão a relação do homem com o Deus que procura agir também por causas segundas.
O Papa Emérito, em seu último livro, traduziu muito bem estes dois pólos de uma possível comunhão e participação: «Graça e liberdade compenetram-se mutuamente, e não podemos encontrar fórmulas claras para exprimir o seu operar uma na outra» (BENTO XVI, A infância de Jesus, 67). No entanto, o querer e procurar a Vontade de Deus sempre será parte nossa e meio de participação e comunhão com os desígnios do Senhor na história pessoal, família e eclesial.
O resultado de uma resposta generosa à generosidade primeira de Deus está muito bem representado neste mesmo Evangelho: «Recolheram os pedaços e encheram dozes cestos com as sobras dos cinco pães, deixada pelos que haviam comido» (Jo 6, 15). Não é difícil percebermos a carga simbólica agregada a este acontecimento histórico, quando ao mistério da Eucaristia, que o próprio evangelista escolheu expressar no mesmo capítulo, um pouco mais à frente, no discurso sobre o Pão da Vida (cf. Jo 6, 30-58).
Por fim, os primeiros discípulos de Cristo experimentaram o poder de Deus, presente e atuante no Filho e por meio d´Ele, agora no mesmo Espírito Santo que o acompanhou em toda a sua caminhada terrena. Precisamos aceitarmo-nos como profundamente amados e chamados a cooperarmos com o Amor, que quer “multiplicar” os corações tocados e comprometidos com a transformação deste mundo sedento de um alimento que o leve a reconhecer e proclamar: «Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo» (Jo 6,14).
Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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